
Quem
é Spirit - Por Will Eisner
Sob
a superfície retorcida e coberta de limo do Cemitério Wildwood,
o sepulcrário abandonado nos arredores de Central City , existe
um lar. Em seu apartamento subterrâneo, construído para ter a
durabilidade de um abrigo anti-aéreo e equipado com o que há de
mais moderno em combate ao crime, vive Denny Colt, vulgo Spirit,
desde junho de 1940.
De
seu santuário, durante toda a década que se seguiu, o herói empreendeu,
com firme determinação, uma guerra aos fora-da-lei. Sua verdadeira
identidade (um segredo obscuro) era conhecida apenas pelo comissário
de polícia, Dolan, e sua filha, Ellen.
Poupado
das restrições que cerceiam um detetive comum e legalmente constituído,
o solitário e nada ortodoxo guerreiro tornou-se uma lenda de seu
tempo. Nos anos seguintes, Spirit alcançou enorme sucesso e passou
a ser altamente respeitado pela sociedade que tentava proteger.
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Ebony
e Pierpoint,
os dois pequenos e esforçados assistentes do Spirit.
Uma iniciativa inovadora de Will Eisner nos E.U.A. racistas
dos anos 40 |
Parece
que o Spirit "serve" ainda mais para Ellen
Dolan, prefeita de Central City e filha do comissário
de Polícia. Já houve repetidos comentários
sobre um provável noivado entre os dois mas
nada de oficial. Nada mais perfeito para um herói.
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Comissário
Dolan,
Chefe da polícia de Central City, aparece aqui numa
pose típica em sua escrivaninha no QG da Polícia.
Tudo indica que Dolan conhece a verdadeira identidade
do Spirit, mas nunca contou isso a niguém. |
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Como ele veio a ser o que é, e quem o motivou a isso?
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Bem,
para ser sincero, ninguém. Ele exerceu o ofício com empenho
inquestionável. E entrou nessa luta da mesma maneira que
muitos homens adentraram em carreiras vitalícias através
de uma combinação de necessidade, talento e circunstância.
Às
vésperas da Segunda Guerra Mundial, o Ocidente atravessava
desastres econômicos e
agudas crises sociais. É claro que todo mundo queria alívio
imediato para o caos.
E
conseguiu: na Rússia, com Stalin - o "Homem-de-Ferro" -,
na Alemanha, com Hitler, e nos Estados Unidos, com Batman,
Super-Homem, Homem-Borracha, Capitão América e outros, capazes
de resolver problemas e acabar com os inimigos da sociedade
num só golpe.
Naquela
época, era muito fácil ser um super-herói. Bastava um uniforme
(azul-escuro ou vermelho, e bem justo, para ajudar nos movimentos),
algum tipo de superpoder e... Shazam! (ou palavras que surtissem
o mesmo efeito). Diziam que o Super-Homem tinha faturado
cerca de dez milhões de dólares, enquanto seus verdadeiros
criadores processavam a editora por uma fatia do bolo.
A
verdade é que super-heroísmo era um bom negócio, simplesmente
porque ninguém questionava a credibilidade de um super-herói.
Sob o sistema de livre-empresa americano, quem ousaria detê-los?
Oh, sim!Houve rumores de uma tentativa de licenciá-los,
como se faz com motoristas de táxi ou detetives particulares,
mas não deu certo.
Por
exemplo, o que o Homem-Borracha faria se bombasse no concurso
do Estado? Falando francamente, eu o conheci muito bem e
duvido que pudesse passar em algum teste mais difícil do
que um exame de sangue.
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A
bela Sand Saref, que
tem deixado visíveis aranhões na lei durante
sua vida, cresceu junto com o Spirit. Os fatos revelados
sobre o Spirit, indicam que ele passou o início de
sua vida no Slum Gully, uma favela no lado pobre da cidade.
Ele e Saref foram muito unidos na infância e resquícios
dessa relação podem ainda ser notados, pois
a senhorita Saref poderia lucrar muito mais revelando a
verdadeira identidade do Spirit. Talvez esse seja o trunfo
que ela guarda na manda.
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A
famosa Silk Satin, criminosa
internacional aposentada, cruza com frequencia o caminho
de Spirit. Primeiro em 1941 como ladra de jóias,
e mais tarde, durante a guerra, como agente do governo britânico.
Hoje anistiada por causa de sua excelente folha de
serviços, Satin é investigadora contratada
pela seguradora Croyds, de Glasgow. É a viúva
de um conde alemão. Satin e sua filha de doze aninhos,
Hildie, hoje vivem na escócia.
Ás vezes amiga, ás vezes inimiga, já
se soube de aventuras românticas.
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Seja
como for, a idéia nunca saiu do papel, o que é bastante compreensível,
visto que os super-heróis não tinham meios de ganhar a vida. Quer
dizer, enquanto geravam rios de dinheiro na forma de histórias
em quadrinhos, funcionavam como uma organização sem fins lucrativos,
salvando cidades e, muitas vezes, nações inteiras sem cobrar um
tostão pelo serviço. Os quadrinhos começaram a ficar congestionados
por todos os tipos de super-heróis, enfrentando os mesmos supervilões
e salvando as mesmas cidades, dia após dia.
Foi
em meio a este clima que Denny Colt entrou no ramo. O problema
era que, quando ele apareceu, todas as boas idéias já tinham dono.
Super-Homem fora enviado de Krypton e se disfarçava de Clark Kent.
Batman era, na verdade, um playboy que podia gastar fortunas para
manter seu questionável hobby de enfrentar criminosos.
Colt
teve que se virar do jeito mais difícil. Sem superpoderes, sem
superuniforme capaz de lhe dar vantagem sobre as pérfidas forças
do mal que maculam nossa sociedade.
Ele
tinha de combater o crime, correndo o risco de se arrebentar.
Afinal, Denny é de carne e osso como qualquer humano. Enquanto
todos pensavam que o maligno Dr. Cobra havia assassinado o investigador,
Spirit aproveitou-se do manto do anonimato para enfrentar os criminosos
além do alcance da lei, agindo à vontade, mesmo na marginalidade.
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Com
certeza a mais fascinante garota na vida do Spirit é
a estonteante P'gell.
Parisiense, segundo dizem, P'gell alega ter nascido em quase
todos os países da Europa, e sua interminável
lista de maridos (todos mortos) é de fato
internacional.
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Se
eu tinha qualquer ilusão sobre o que Spirit faria, ela foi
rapidamente modificada pelo próprio personagem. Na verdade,
tudo o que um autor pode fazer é colocar seu herói em determinada
situação e observar como vai se desevencilhar dela.
Spirit
sempre se depara com os aspectos mais mundanos do combate
ao crime. Em suas aventuras, ele enfrenta mulheres formidáveis
e soturnos habitantes das sujas entranhas da cidade. Eles
colocam nosso herói justamente no papel para o qual foi
criado:o de um combatente classe média
do crime.
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Galeria
de Quadrinhos
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