Esqueça tudo que você viu no Planeta dos Macacos ou leu de Isaac Asimov e venha conhecer um mundo real. O “Planeta dos Malacos”. Malaco você já sabe: é aquele sujeito safado, mau-caráter, viciado, ladrão, espertalhão etc., dependendo do Estado em que você mora. Sempre que o cinema mostra a ficção, é um futuro caótico, escuro, destruído por alguma catástrofe nuclear, com pessoas usando roupas que mais parecem ter saído de algum desfile de Karl Lagerfeld ou qualquer outro estilista europeu famoso e homoss…Humm…excêntrico…bem, deixa pra lá. Decidi que seria assim mesmo só que, em vez de a nave ser futurista, o piloto herói falar inglês e cair em algum planeta misterioso e hostil, agora a nave é arcaica, o piloto herói fala português, e o planeta continua misterioso e hostil.
Começa mais ou menos assim:…Ah! A trilha sonora, esqueci da trilha! Em “2001” é um clássico e resolvi, ao invés de Strauss, Chopin, Mozart, ou até mesmo algo mais “futurista” como Jean Michel Jarre ou Kraftwerk, colocar um ….Daniel, Zezé di Camargo e Luciano, Claudinho e Bochecha. Calma! Sei, sei que é brega, porcaria, subproduto da Indústria Cultural e tudo mais. Concordo! Mas cada povo tem a trilha que merece! Coloquei umas do Charles Aznavour, Yves Montand e Edith Piaf -que não tem nada de brega- e você logo vai entender a razão. Então agora vai.
– Aaahhhhhh!…Mayday…Mayday…Estou caindo…Mayday…..
Logo após foi ouvido um grande estrondo como o da quebra da Bolsa de Buenos Aires. Pior que o barulho foi o silêncio causado depois da queda -da nave, é claro! Lentamente a cápsula de tecnologia de última geração abriu sua porta de embúia maciça. A fumaça foi se dispersando e nosso herói, tenente Cardosô, deparou com algo totalmente novo. Não era como seu planeta de origem, a FHrança, mas dava para encarar.
Cardosô olhou em volta e viu que tinha caído em cima de algum tipo de câmara mortuária, mausoléu, tumba ou coisa parecida, pois exalava um cheiro fétido e estranho às suas narinas elitistas, acostumadas a fragrâncias mais puras como Channel e Cia.
Cardosô pulou rapidamente da cápsula de fibra de bambu, material da avançada tecnologia “FHrancínica”, ao perceber que seres daquele local vinham ao seu encontro espantados talvez pelo barulho do pouso forçado. Não mais que depressa identificou-se:
– Silvícolas! Meu nome é Tenente Cardosô. Vim em paz em nome do povo da FHrança, meu planeta! E, num ato de singeleza de coração, beijou o chão daquela amigável terra.
– Ohhhh! -Exclamaram estupefatos os habitantes da “tumba”- Também somos pacíficos!
– Sei não esse alienígena… Alguém já fez isso aqui há 500 anos e olha no que deu! Comentou um dos seres que vestiam um traje estranho com um tipo de avental amarrado no pescoço e colarinho branco e uma pasta em uma das mãos.
Cardosô rapidamente cravou sua bandeira de papelão com o desenho de um prato vazio e os dizeres: “Le Lion est le Roi des Animaux” nas cores branca, azul e vermelha. Encantado com a descoberta foi conhecer um pouco mais do local e, quem sabe, conseguir parar de sentir aquele cheiro de podridão.
Levado a conhecer o povo dali percebeu duas coisas logo de cara: o cheiro fétido havia desaparecido e o povo era sincero. Constatou também a carência de produtos básicos à sobrevivência como saneamento básico, alimentação, educação, segurança e tantas outras coisas que eram normais na FHrança.
Tudo que Cardosô viu causou-lhe um pensamento muito provável e corriqueiro a alguém de formação cultural elevada e caráter duvidoso que anda em companhia de seres tão desprezíveis como aqueles do “colarinho branco”.
Rapidamente reuniu seus novos amigos em cima da “tumba” e explicou seu plano macabro de dominação daquele povo sincero. Claro que foi na linguagem “FHcínica” e com o jingle da campanha já feito por “marketeiros” experientes que é assim: “De FH veio a esperança, pra fazer brilhar nossa estrela! Cardosô lá!”
– Irmãos de “colarinho branco”! Precisamos levar o bem a esse povo carente de cuidados! Em meu planeta não temos os problemas que aqui encontrei e que me deixaram profundamente abalado. Venho propor aos irmãos meu plano para alavancar soluções para “nosso” planeta e mostrar às outras nações que aqui há vida inteligente e capaz. “Não vamos nos dispersar” nesse momento em que o povo pede por ajuda de um Salvador. Nessa terra em que há abundância de tudo, não há como nos esquivarmos à responsabilidade a nós imputada pela vontade divina.
– Sabemos que nossa posição é de responsabilidade e bravura. Não vamos esmorecer aos percalços de nossa árdua jornada, pois temos a nosso favor o poderoso planeta FMI, o qual nos dará apoio e coragem, tão necessários para completarmos nossa tarefa. Vejo que “nosso” planeta já passa por muitas dificuldades, mas bem sei que, unidos, jamais seremos vencidos! “Juntos chegaremos lá”.
– É do alto desta “Tumba” que vos contemplo…
Naquele momento Cardosô é interrompido.
– Vossa Excelência está enganado! Onde sua nave caiu não é uma “tumba”, mas sim nosso Congresso Irracional! É aqui que fazemos as falcatr…quer dizer, as leis que regem e dão esperança ao povo de nosso planeta!
– Mas….Mas….E o cheiro fétido de morte? Podridão? Sujeira?
– Isso não é nada, com o tempo Vossa Excelência vai se acostumar e ver as coisas boas da vida de Congressista Irracional! A propósito, seu discurso é muito estimulante. Mas como faremos para esconder o que já está errado para que o povo pense que algo está mudando e continue acreditando em nós?
Cardosô pensou, pensou e depois de alguns minutos sacou de um de seus aparatos tecnológicos chamado “Medidá Prrôvisorriá” e, como em passe de mágica, fez que todas as luzes se apagassem e a completa escuridão tomou conta do planeta.
É o momento de Edith Piaf…..”Sous le ciel de Paris, S’envole une chanson, Hum, Hum…”
Como diz minha amada mãe: “Esse mundo tem coisa! E tem coisa que não é desse mundo!”
André Luis Arruda Plácido é paulista de Pirajuí residindo em Londrina desde 1991. Formado em Relações Públicas pela UEL , seminarista e aluno de Jornalismo (2000)