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Poética

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então é isso
quando achamos que vivemos estranhas experiências
a vida como um filme passando
ou faíscas saltando de um núcleo
não propriamente a experiência amorosa
porém aquilo que a precede
e que é ar
concretude carregada de tudo:
a cidade refluindo para sua hora noturna e todos indo para casa ou então marcando
encontros improváveis e absurdos, burburinho da multidão circulando pelo centro e
pelos bairros enquanto as lojas fechadas ainda estão iluminadas, os loucos discursando
pelas esquinas, a umidade da chuva que ainda não passou, até mesmo a lembrança da
noite anterior no quarto revolvendo-nos em carícias e mais nosso encontro na morna
escuridão de um bar – hora confessional, expondo as sucessivas camadas do que tem a
ver – onde a proximidade dos corpos confunde tudo, palavra e beijo, gesto e carícia
TUDO GRAVADO NO AR
e não o fazemos por vontade própria
porém por atavismo

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a sensação de estar aí mesmo
harmonia não necessariamente cósmica
plenitude muito pouco mística
porém simples proximidade
da aberrante experiência de viver
algo como o calor
sentido ao estar junto de uma forja
(talvez eu devesse viajar, ou melhor, ser levado pela viagem, carregar tudo junto,
deixar-se conduzir consigo mesmo)
ao penetrar no opalino aquário
(isso tem a ver com estarmos juntos)
e sentir o mundo na temperatura do corpo
enquanto lá fora (longe, muito longe) tudo é outra coisa
então
o poema é despreocupação

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