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Cartas na Rua

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Cartas na Rua (Editora Brasiliense, 1984) é a primeira novela de Charles Bukowski, escrita logo assim que ele abandonou o emprego de 12 anos nos correios dos E.U.A. “para não acabar louco”. Abaixo segue um trecho da obra.

Ela gritou:
– A MALDADE ESTÁ ESCRITA EM SUA CARA!
– E você acha que eu não sei? Agora deixe-me sair!
Com a mão tentei joga-la para o lado. Fincou as unhas em meu rosto. Pra valer. Deixei cair o malote, o meu quepe escorregou, e, enquanto eu pegava um lenço para estancar o sangue, ela veio e arranhou a outra face.
SUA BUCETA! QUE MERDA PENSA QUE ESTÁ FAZENDO?
– Viu? Viu só? Você é um tarado!
Ela estava de pe bem junto de mim. Agarrei-a pela bunda e mergulhei de boca. Os peitos balançando bem junto, ela toda junto de mim. Ela levantou a cabeça e afastou-a de mim:
– Tarado! Tarado! Tarado!
Com a boca alcancei um de seus peitos, fiquei nele um pouco e depois mudei para o outro.
– Estupro! Estupro! Estou sendo estuprada!
E ela estava certa. Puxei as suas calças, abri o meu zíper e liberei o ganso. Enfurecido, enfiei, e fomos andando até o sofá.Caímos bem no meio. Ela abriu bem as pernas!
– Estupro! – gritou.
Acabei logo, fechei o zíper, apanhei a mala do correio e sai enquanto ela ficava absorta olhando o teto…
Perdera o almoço e nem assim consegui chegar em tempo.
– Você está 15 minutos atrasado!, disse o Stone.
Eu não disse nada.
O Stone olhou pra mim.
– Por Deus, o que houve com o seu rosto?, perguntou.
– O que houve com o seu?
– O que você quer dizer?
– Ah, deixa pra lá!
Eu estava de ressaca de novo, e era uma outra onda de calor, uma semana com dias de 32 graus. A bebedeira continuava cada noite; nas madrugadas e durante os dias havia o Stone e a impossibilidade de tudo.
Alguns caras usavam capacete e protetores como se estivessem sob o sol africano, mas eu, eu ficava na mesma, chovesse ou fizesse sol – roupas esmolambadas e sapatos tão velhos que os pregos espetavam os pés. Pus pedaços de papelão nos sapatos. Mas só resolveu temporariamente – logo os pregos estavam me espetando os calcanhares de novo

O uísque e a cerveja evaporavam de mim, escorriam das axilas, e eu ia andando com minha carga nas costas como se carregasse uma cruz, entregando revistas, entregando milhares de cartas, cambaleando, derretendo debaixo do sol.
Alguma mulher gritou:
– CARTEIRO! CARTEIRO! ESSA CARTA NAO É DAQUI!
Olhei e ela estava um quarteirão morro abaixo e eu já estava atrasado.
– Olhe, dona, ponha a carta do lado de fora. Nós pegamos amanhã!
– NÃO! NÃO! QUERO QUE A LEVE AGORA!
Ela sacudia o troço no ar.
– Dona!
– VENHA BUSCAR! NÃO É DAQUI!
Oh, meu Deus. Deixei cair o malote. Aí peguei meu quepe e atirei-o na grama. Rolou ate a rua. Não liguei; desci em direção à mulher.
Desci meio quarteirão e arranquei a droga da carta das suas mãos, aí virei e voltei.
Daria um anúncio! Correio de quarta categoria. Algo como a venda de roupas pela metade do preço. Catei meu quepe e pus na cabeça. Pus o malote de volta no ombro esquerdo e recomecei. 32 graus.

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