Pedro Juan Gutierrez é o escritor cubano que se revelou ao mundo literário com Trilogia Suja de Havana (Companhia das letras, 1993), uma obra que o deixou na galeria dos escritores MALDITOS, na trilha de Bukowski, segundo nove entre dez criticos do mundo inteiro. O livro conta as desventuras de um heroi de resistencia urbana, em uma Havana mergulhada na grande crise cubana de 1993/94, um sujeito movido a sexo e ao lema sarcástico do viva e deixe morrer, um verdadeiro malabarista da sobrevivencia, nem revolucionário e tão pouco contra-revolucionario. Ele é simplesmente Pedro Juan e o resto é uma merda de mundo em que você tem de se munir do seu arsenal de manhas e artimanhas para permanecer de pé. A miseria, a prostituição, a morte e o descrédito dos camaradas passam incólumes por esse homem que não confia em mais nada senão no próprio faro. Pedro Juan enfrenta os problemas práticos do dia a dia, como arrumar uns pesos para aquele trago de rum ruim da porra e um pãozinho com café de origem duvidosa ou aquela cerveja com gosto de vinagre.
Pedro Juan é internacionalmente famoso agora, embora dificilmente você encontre o nome dele nos catálogos oficiais sobre os escritores cubanos. Mora em Havana e vive bem para os padrões de los companheiros. Ele não fala explicitamente de política nos seus livros, não revela nenhuma posição política e parece não se sentir obrigado a tomar qualquer partido. Escrevo o que conheço. Vivo no centro de Havana, onde ficam os bairros mais antigos, com as piores condições de vida. Quase tudo nos meus livros é real. Escrevo sobre a gente que conheço. Pessoas que vivem rotineiramente se perguntando: “Vou preso ou não? Vou ter US$ 1 para viver hoje ou não?”. Mesmo que Pedro Juan não fale de política, é difícil não associar a sua Havana das consequencias econômicas da opção política de Cuba. Como poderia o sistema de Cuba recomendar às bibliotecas nacionais, à juventude cubana, a leitura de livros que revolvem as entranhas podres que se mantém à margem das conquistas sociais? É dura a realidade – a ser escondida nos seus aspetos mais sórdidos – de um pais sitiado que se mantém à base da imagem e do que ainda resta do patriotismo romântico e combativo dos filhos del Comandate. Depois de ler os livros de Pedro Juan, você precisa ser frio e razoável para não ficar decepcionado com Fidel e o seu sistema político. Mas o autor não deseja alimentar nehuma animosidade quanto a isso; Consigo separar a política da literatura. Não gosto de falar em público sobre política. A situação em Cuba é muito complexa.
Pedro Juan veio para o Brasil em Maio de 2001 para a bienal do livro do Rio e passou por São Paulo. Foi conhecer a noite underground do centro da cidade, mais especificamente a meca dos clubes-inferno das garotas e garotos de programa, a tal boca de lixo. Portou-se de acordo com o roteiro e reforçou o mito que está se construindo em torno de seu personagem-alter ego, tal e qual Bukowski. Tomou todas, apavorou as meninas da zona, passou a mão em meia dúzia delas e se declarou o verdadeiro Rei de Havana, tal e qual Reinaldo, o personagem de seu segundo livro, O Rei de Havana. Aqui, Reinaldo é impiedosamente levado através da pena do escritor, a uma degradação fisica e moral numa Havana de desvalidos e embrutecidos pelas dificuldades do dia a dia e pela falta de esperança. Ao cubano, só resta o rum, a salsa e o sexo, diz Pedro Juan.
Perdro Juan está com 51 anos e já lançou na Europa (seu principal mercado) o seu último livro de contos: Animal Tropical e atualmente está terminando O Insaciável Homem Aranha, em que aparece o mesmo Pedro Juan de sempre.É um escritor no auge do processo criativo e que achou a sua fórmula e nos promete mais pauladas. Ler Trilogia Suja de Havana e o “O Rei de Havana” foi um prazer que se renovava a cada página e digo para vocês que não deixei de desejar escrever como Pedro Juan. Esse é um cara de fibra e ainda tem fígado para doses cada vez mais fortes.
Por Beto