Saí
do Rio às duas da madrugada e tomei um ônibus junto
com uns cretinos infelizes todos com cara de putos da vida. O
ônibus estava meio vazio e por isso não sei porque
diabo aquela SENHORITA resolveu sentar do meu lado. Ela até
que era um bocado bonita com pernas bem torneadas e tudo e fez
um puta estardalhaço para colocar a mala no bagageiro.
A mala parecia um pouco pesada. Garotas sempre fazem um estardalhaço
para colocar as malas onde quer que seja! Eu me diverti um bocado
observando os peitos dela que balançavam para cima e para
baixo, enquanto ela tentava colocar a tal mala na porcaria do
bagageiro bem sobre a minha cabeça. E os peitos dela eram
bonitos. É mesmo. Quer dizer, tinham cara de bonitos, porque
ela vestia uma blusa de lã e eu não podia ver lá
essas coisas. Sinceramente, eu não entendia o que é
que uma mulher daquelas estava fazendo àquela hora, numa
droga de ônibus com um bando de cretinos infelizes. NA VERDADE,
NEM QUERO SABER E MESMO SE SOUBESSE NEM ESTARIA A FIM DE EXPLICAR
COISA NENHUMA. Ela estava demorando um bocado para arrumar a droga
da maldita mala no bagageiro bem sobre a droga da minha cabeça
e me ofereci para ajudá-la, com toda a sinceridade mesmo,
e ela disse obrigada e tudo e que estava tudo bem e tal, que não
era mais preciso e tal e então ela finalmente se sentou
do meu lado. Tirou um livro da bolsa, um livrinho de capa vermelha,
acho que era um tal de "um copo de cólera " ou
coisa parecida, e começou a ler. Eu sabia que essa estória
de ler não ia durar muito porque a droga da luz da porcaria
do ônibus era muito fraca e então ela deixou o tal
livro no colo e começou a procurar por alguma coisa na
bolsa. Garotas são esquisitas! Estão sempre procurando
por alguma coisa na bolsa. Ela tirou um pacotinho de chicletes
e me ofereceu um que eu recusei gentilmente. Eu não gosto
de mascar essas drogas de chicletes que nem uma besta quadrada
e então eu recusei gentilmente. Eu disse obrigado e tudo
e fiquei na minha e virei para lá. Então e o folgado
do motorista do ônibus resolveu dar a partida e fiquei muito
feliz com isso. Muito feliz mesmo. Eu não via a hora de
entrar na Dutra e me afastar daquela droga de cidade. Esse papo
de Rio de janeiro - cidade maravilhosa para mim não passava
de conversa fiada para boi dormir e eu tava cheio mesmo. No duro.
Toda essa coisa de morros, praias, calçadão e tal,
ia ficar na memória, e aqueles turistas idiotas e aquele
monte de veadagem. No duro mesmo, eu queria que todos aqueles
playboys cretinos e suas namoradas idiotas fossem coçar
saco de pulga. Fechei os olhos e tentei tirar um cochilo mas era
impossível porque a chata da garota sentada ao meu lado
estava mastigando a droga de chiclete no meu ouvido e isso me
deixava maluco. Não gosto quando FICAM MASCANDO CHICLETE
NO MEU OUVIDO E ALGUMAS GAROTAS TEM CÉREBRO DE MINHOCA
E FICAM MASCANDO ESSAS DROGAS DE CHICLETE NA PORCARIA DO MEU OUVIDO.
Ah Garotas!
Olhei pela janela e o brilho das luzes da tal cidade maravilhosa
refletidas em alguns pontos do mar me deixava tonto. Eu gostava
do Rio antes de resolver ir morar lá. Passava no máximo
uma semana e me divertia bastante com as garotas, vagabundas e
tudo e com os camaradas da vila Isabel, Lapa e tudo e eu voltava
para Sampa mais bacana, mais gostoso e tal , mas aí eu
cometí a besteira de me mudar para lá e fui me meter
naquele droga de Universidade e fui arrumar aquela porcaria de
emprego sacana e por causa disso arrumei um bocado de problemas.
Bem, o tal ônibus trafegava como uma tartaruga e isso me
deixava irritado. Tudo bem que a noite não estava lá
essas coisas e era preciso trafegar com cuidado, principalmente
porque o meu rabo vale no mínimo dois milhões de
doletas. Dei umas tossidas insistentes para a dona do meu lado,
num sinal claro de que eu estava me incomodando com essa estória
dela estar mascando chiclete na porcaria do meu ouvido, mas nada
parece ter passado pela cabeça dela. Então tirei
um maço de cigarro do bolso do meu casaco e me preparei
para acender um, e é claro, antes tive a gentileza de oferecer
um à minha companheira de viagem. Ela disse que não
fumava e tal e que realmente não sabia se os outros passageiros
achariam uma boa idéia alguém fumando no ônibus.
"Bem, sabe, eu estou tentando dormir e não consigo
e acho que ninguém vai reclamar", eu disse e acendi
a porcaria do cigarro. Dei uma baforada em direção
a minha amiga senhorita e soltei um "oh me desculpe"
e ela disse:
- Sabe, eu já fui fumante e não sou daquelas que
ficam pegando no pé de quem ainda fuma - e então
estourou uma bola do maldito chiclete. Ninguém reclamou.
Alguns passageiros resmungaram, mas ninguém reclamou. Só
o motorista que gritou lá da frente: "ALGUÉM
ESTÁ FUMANDO AÍ?" E eu: - Já estou apagando
- que nada! Eu ia fumar aquele bagulho inteiro e ninguém
iria me deter. Abri uma fresta da janela e um vento frio invadiu
minhas narinas, estourou na minha cara e fez a brasa do maldito
cigarro pipocar como mecha de lenha. Droga, não dá
nem para fumar um cigarrinho. Joguei a droga do cigarro estourado
pela janela e olhei para as pernas da minha senhorita companheira
de viagem. Realmente não era uma peça de se jogar
fora. Com o ônibus meio vazio bem que poderíamos
tirar uma casquinha. Certamente ela nunca trepou em um ônibus
em plena viagem.
Do
mesmo autor
Deprimido
Jack (parte 1)
Recortes de xota quente da Rita Mae
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