Eram
duas toranjas, e a dona delas usava um decote vermelho de um tecido
fino, quase transparente, que até dava para ver a alma.
Ela não usava aquelas coisas sobre os peitos e os bicos
eram como a linha de frente de escola de samba e parecia que alguém
tivesse acabado de chupá-los. No duro! E aquelas pernas
magníficas sustentando o par de toranjas Ela parecia uma
Bond Girl, a mais gostosa de todas elas. Qualquer míope
perceberia que ela usava calcinha branca e tudo.
O bar tinha um número razoável de peitos dignos
de atenção, mas aquele par em particular me fisgou.
E ele estava chegando cada vez mais perto de mim. Todos os marmanjos
acompanhavam aquela maravilha com os olhos, na verdade estavam
comendo aquilo tudo com os olhos! E eu tinha certeza, os peitos
estavam vindo estacionar do meu lado. Kambene, você é
o maior, olha para aquilo garoto, aquele par de mamas está
vindo explodir na sua cara. Se prepare meu filho, não se
esqueça que você é o grande Kambene, o grande
escritor, e aliás essa é uma das vantagens de ser
um grande escritor: Mulheres fantásticas e glamourosas
aparecem do NADA para os grandes escritores.
Engoli o resto do conhaque e bati o copo no balcão. Fez
um pá escandalosamente ruidoso e não tinha como
os outros clientes não ouvirem o tal pá! Na verdade
um cara de ouvidos bem atentos ouviria o tal pá mesmo se
estivesse em Madagascar. Rapidamente pedi dois martinis, naturalmente
um para ela. O barman, o meu chapa, sacou tudo e se apressou solícito.
E então as longas pernas se cruzaram no banco bem do lado
do meu e aquele lindo vestido, aquele lindo vestido que era o
amor da minha vida tinha uma racha lateral que deixou uma bela
coxa descoberta. PORRA, UM VESTIDO CURTO E AINDA COM UMA RACHA
LATERAL! Fora de série! Meu olhar que já estava
avaliando as pernas foi subindo de novo até aos peitos,
passando naturalmente pela barriga e fiquei imaginando coisas,
mil coisas que eu faria com aquele puta corpo. Exalava um perfume
suave de tabaco. É uma garota de classe, pensei, ela tem
classe. É isso aí Kambene, você não
é um cara tão ruim assim. Você é um
cara legal e Deus é seu amigo. Olha só aquele avião
de garota exibindo as coxona e os peitão para mim.
Betão trouxe os martini depositou-os na minha frente. Eu
nunca bebia martini. Queria fazer cena para a dona dos peitos.
Kambene, o cara que só toma martini, vermute, gin com soda,
essas coisas...
O bar voltou ao seu ritmo cardíaco normal. E eu com os
olhos propositadamente cravados no meio dos seios da gostosa.
Afinal eu não pedi para que ela se sentasse bem do meu
lado e eu gosto de olhar mesmo. É da família.
Então finalmente os peitos falaram:
- Uma cerveja e um maço de marlboro, por favor
Ela disse "por favor" com afetação. E
mais uma vez lá se foi o barman mais que solícito.
Afastei suavemente um dos copos de martini para a frente dela
e olhei-a bem no fundo de seus olhos castanhos e meus olhar devia
estar com algum brilho maléfico, digo malicioso ou qualquer
coisa que expressasse desejos carnívoros. Ela olhou para
mim e sorriu e aceitou o martini e disse: "Obrigada."
E na seqüência: "QUER PARAR DE ME COMER COM OS
OLHOS KAMBENE?"
BINGO! Eu a vi! Os lábios mais carnudos que já vi
nos últimos tempos. Impossível que ela não
chupasse um pau com competência! E ela me conhece. Eu sou
um grande escritor mesmo!
A dona deu um gole do drink e a cerveja chegou. Me antecipei e
enchi nossos copos novos. Ela me olhou e sorriu. Belos olhos verdes
profundos e tudo, sinceros e tal. Levantei meu copo e suspendi-o
a poucos palmos dos peitos dela. "A todos os deuses que trouxeram
você até mim", eu disse "e a você,
que sabe cuidar muito bem da beleza que vestes." Ela me olhou
com curiosidade acentuada. Ela estava confirmando em carne e osso
que Kambene, o grande Kambene, realmente era um grande mago das
letras. A todos os Deuses que te trouxeram até mim. Essa
beleza que vestes". Ela gostou disso. Ela ergueu o seu copo
e brindamos: "A nossa saúde", ela disse.
Dei um golinho rápido só para não perder
o espetáculo de ver aquela MULHER-DEUSA-TESUDA tragando
sua cerveja. Era charme puro naqueles lábios vermelhos
e grossos. Não resisti e me saí com essa, que em
circunstâncias diversas não teria sido feliz:
- Queria ser essa cerveja deslizando por sua garganta...
Ela
engasgou e soltou um sorriso amarelo que me deixou corado de vergonha.
Ridículo Kambene, como pode, o mago das palavras? Ela virou
a cabeça e me encarou e ficamos lá olhando um para
o outro, durante uns segundos ou minutos, ou qualquer coisa que
o valha, lá, olhando um para o outro. Mais uma cena da
noite na vida de um cara, o grande Kambene, grande escritor do
cotidiano delirante.
- De onde você surgiu? - perguntei afinal
Ela tomou um gole de martini. Confio em garotas que misturam bebidas.
Grande jogadora, pensei enquanto a observava de soslaio. Abriu
o maço de cigarros e eu saí catando o isqueiro perdido
em algum lugar de um dos bolsos das calças e não
achava a droga do isqueiro. Estava no fundo das calças
e quando o achei ela já tinha dado a primeira baforada.
Acendi meu cigarro, traguei e fiz um de meus truques com fumaça.
Soltei umas bundinhas de fumaça. É isso aí,
bundinhas de fumaça se espalhando no ar! E então
ela perguntou:
- Você vem sempre aqui?...
As vezes eu saio da toca para desanuviar...
- Que interessante. Eu estou com um de seus livros na bolsa.
Bebi meu martini.
- Você me acha gostosa?
- Isso é pouco. Você é a mais perfeita e querida
das filhas de Eva. Doces são teus encantos e ... - não
exagere Kambene, você não conhece os encantos dela
- quer saber de uma coisa? Eu fiquei vidrado em você.
- Você vive seus personagens?
- Não. - respondi.
-Oh me desculpe.
Silêncio momentâneo. Ela fumando pensativamente e
eu olhando para o nada em frente de mim. Daí ela falou:
- Posso te fazer mais uma pergunta? Gosto das coisas que você
escreve...eu...
- Manda ver...
- Você acha que as mulheres são burras?
- Eu as acho fantásticas. De onde você tirou essa
ideia?
- Bem você sempre põe isso na boca de seus personagens.
Acho que você não entende nada de mulheres.
- Talvez eu precise de uma professoral.
- Mas eu adoro o que você escreve. Eu acho engraçado.
Engraçado.
Meu Deus, ela acha engraçado. Eu mergulhando nos profundezas
dos tormentos humanos, puro Dostoiévsky e ela acha engraçado.
Ela tirou algo da bolsa. Era o meu último romance, Pererecas
coaxando na lagoa do amor eterno. disse:
-Comprei hoje.
- O que seria de um pobre escritor sem almas caridosas como a
sua...
- Acho um barato...Estou adorando ter te encontrado. Minha amigas
não vão acreditar. - ela disse - as meninas também
gostam das suas aventuras...
- Tudo bem - eu disse - Você realmente é uma garota
de sorte. Você anda sempre com os livros de seus autores
preferidos na bolsa?...
- Não exatamente. Foi uma coincidência. Uma boa coincidência.
Faça uma dedicatória especial para Tânia.
Eu sou a Tânia.
- Hum, hum.
E ficamos lá de papo pro ar. Eu não conhecia a capa
do meu último livro, Pererecas coaxando na lagoa do
amor eterno, e então aproveitei para dar uma bela olhada.
Não era grande coisa.
Do
mesmo autor
Mulheres
fantásticas chovem para os grandes escritores
Romeu
e Maria Teresa Quebra-Pau
O
grande comedor de lambisgóias ou qualquer coisa que o valha
contato:kambene@hotmail.com
|