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Lawrence Ferlinghetti - O editor dos malditos

Poemas extraídos de Vida sem fim - os melhores poemas de Ferlinghetti
Seleção de Ferlinghetti
Ed. Brasiliense, 1984

"Eu sou a porta". Ferlinghetti na City Lights Books, San Francisco, 1965. Foto de Larry Keenanl

"Lawrence Ferlinghetti é o poeta que fundou uma livraria e editou grande parte dos mais importantes textos beats. Sua poesia criou uma ligação entre beats e surrealistas. Lawrence nasceu "em 1919 ou 1920, entre Paris e Nova York", logo depois da morte de seu pai, que era italiano. Foi então levado para a França com seis semanas e viveu lá, com uma tia, até os seis anos de idade. Retornou a Nova York e, dois anos mais tarde, sua tia desapareceu subitamente (algum tempo depois Ferlinghetti descobriria que ela morrera num hospital, como indigente). Foi então adotado por uma família francesa, entrou na Marinha durante a Guerra e depois foi para Paris estudar pintura na Academia de Belas Artes. Em 1951, retornou aos EUA e se estabeleceu na Califórnia ("único lugar do país onde se podia levar uma vida decente"). No mesmo ano, criou a livraria City Lights, que em 1955 se transformaria em editora, lançando Howl, de Ginsberg, que depois de um tumultuado processo judicial, venderia 360 mil exemplares consagrando Ferlinghetti como editor de vanguarda.

Em 1975, reconhecida por seu trabalho intenso e inovador, a prefeitura de San Francisco estabeleceu em seu calendário cultural um dia em homenagem ao poeta, o Lawrence Ferlinghetti's Day.

Poemas

Nunca transei com a beleza em minha vida

Nunca transei com a beleza em minha vida
Fiquei me repetindo
suas graças máximas

Nunca transei com a beleza em minha vida
mas quem sabe transei
fiquei me repetindo
a beleza nunca morre
mas fica à parte
entre os aborlgenes
da arte
e muito acima
dos campos em que o amor batalha

É bem lá no alto disso tudo
é claro
Senta no mais raro trono
do templo
lá onde os diretores de arte se acham
para escolher as coisas.
dignas de imortalidade

Eles sim transaram com a beleza
a vida inteira
E provaram do orvalhomel
e beberam os vinhos do paraiso
assim eles sabem muito bem como
uma coisa linda é uma jóia
infinda e infinda
e como nunca nunca ainda
vai virar uma máquina
de perder dinheiro
como alguma coisa sem vida

Ah não eu não transei
espaços de beleza como esses
com medo de acordar de noite
com medo de não perceber
algum movimento que a beleza fez

Mesmo assim eu dormi com a beleza
no meu jeito desajeitado
e aprontei mil e umas
com a beleza na minha cama
e assim lá se vai um poema ou dois
e assim lá se vão dois poemas ou um
nesse mundo com cara de Bosch

Ao longe sobre um porto

Ao longe sobre um porto cheio de casas sem calefação
em meio às chaminés de navio
de um telhado mastreado de varais
uma mulher hasteia velas sobre o vento
expondo seus lençóis matinais
com pregadores de madeira
Oh mamifero adorável
seus seios seminus
arrojam sombras retesadas quando ela se estica
para pendurar de alma lavada
seu último pecado
mas umidamente sensual
ele se enrola nela
agarrado à sua pele
Capturada assim de braços erguidos
ela atira a cabeça para trás
numa gargalhada muda
e num gesto espontâneo
espalha então cabelo dourado
enquanto nas inatingiveis paisagens marinhas
entre lonas brancas e enfunadas
sobressaem radiantes os barcos a vapor
para o outro mundo

Textos de Lawrence Ferlinghetti

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