O
"dadaísta do Bronx", o "poeta metálico", o "poeta extinto": esse
é Carl Solomon, para quem o longo e profético Uivo,
de Allen Ginsberg, foi inteiramente dedicado. Mas Solomon não é apenas
um nome numa dedicatória antológica - ele também escreve. E como! Poeta
em migalhas, cronista do absurdo, contista fragmentário, Carl Solomon
tem se dedicado ultimamente a empregos não-Iiterários (vendedor, mensageiro).
Os textos destes seus dois primeiros e únicos livros, Mishaps, Perhaps
e More Mishaps, editados por Mary Beach em 1966 e 1968 respectivamente,
nos oferecem uma visão intensa e singular do outro lado, sem Deus nem
natureza. Espécie de Artaud com um riso michauxniano no canto da boca,
Solomon se diferencia dos outros beats por ser escritor não-místico
e demasiado urbano. Aqui o leitor encontrará indignados libelos contra
a psiquiatria policialesca e repressiva dos asilos e hospícios, ensaios
sobre Artaud, Van Gogh, Baudelaire e outros visionários, flashes da
vida beat pelos becos, ruelas e apartamentos encardidos de Nova Iorque.
Um livro ousado, digno e arrebatador (L&PM editores).
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textos de Carl Solomon
Extraídos
de "De repente, acidentes"
L&PM editores.
Cenário
para Howl: memórias dos anos Waugh
Foi
Franklin Roosevelt quem declarou que odiava Waugh. Na época afirmou
também que sua mulher Eleonor odiava Waugh. Eu, ao contrário, adorava
Waugh. Lembro que li três de seus livros, um atrás do outro, antes de
planejar um esquema suicida sem igual: ser suicidado pela sociedade
à Ia Van Gogh. Peguei um sanduíche de manteiga de amendoim sem pagar
no bar do Brooklyn College, esperando ser apanhado e executado sumariamente
pelo gigantesco guarda de plantão. Nessa época eu também estava influenciado
pelo famoso crime gratuito do "Les Caves du Vatican II" de André
Gide. O que se seguiu não foi nenhuma execução, mas uma apresentação
à enfermeira-chefe do Instituto Psiquiátrico de Manhattan, onde, a história
segue estranhos caminhos, encontrei pela primeira vez meu futuro companheiro
beatnik, Allen Ginsberg. Dei a Allen uma versão apócrifa de minhas aventuras
e audácias pseudo-intelectuais. Ele anotou tudo o que eu falei meticulosamente
(nessa época eu achava que ele sofria do "mal do escritor", que ele
pensava ser um grande escritor). Mais tarde, quando decidi renunciar
à carne e me tomar um santo-lunático profissional, ele publicou todas
estas informações, parcialmente verdadeiras, mas na maioria delírios
de autojustificação, fanfarronices criptoboêmias à Ia Rimbaud, piruetas
afeminadas e aforismos esotéricos plagiados de Kierkegaard e de outros
- sob a forma de Howl. Deste modo ele cultuou a mentira como
verdade e o delírio como sensatez para a contemplação e perdição das
futuras gerações. Lee Harvey Oswald tinha o seu Mark Lane - eu não tinha
ninguém. E não precisava de ninguém, provei ser um homem de ação quando
confrontado com as mentiras e falsas análises da minha própria geração
- aquele bando glamouroso de imbecis. Eu consegui sair de uma variedade
infinita de hospícios e provei que sou um cidadão bom e honrado, temoroso
de Manitou - um humanista sensível e letrado. E isto apesar da pederastia
geral à qual fui exposto desde a mais tema juventude. Apesar da influência
dos acadêmicos enrugados que foram os primeiros a me colocar no mau
caminho me expondo a sedutores da juventude como Gide, etc."
Confissões
de um homem decepcionado com a literatura
Lawrence
Ferlinghetti,
Estes e muitos outros,
E o que eu ganhei em termos de sabedoria eterna?
Nada.
A literatura não tem muito mais a oferecer
do que os rostos sem expressão que agente encontra no metrô... é óbvio
que é só um meio de matar o tempo,
um assunto para conversa.
Estou entregando o jogo?
Mas não se pode dizer isso de qualquer coisa... o beisebol, tantas bolas
rebatidas?
Onde está o que eu procuro ?
E eu estou procurando alguma coisa ?
Digamos: eu leio para manter minhas mãos ocupadas...
para não me masturbar.
Sou possuído pela linguagem e não testando nada a dizer.
Por que não colecionar seIos, piadas sujas, trocadilhos? , , Beber intermináveis
xícaras de café ou entrar em um concurso de comedores de torta que é
a mesma coisa.
Eu estou um pouco desapontado com Ferlinghetti.
O verdadeiro Dada deveria ter atravessado a Rússia no lombo de um cavalo.
Textos
de/sobre Carl Solomon
Uívos
de Carl Solomon | Carl Solomon - jogando
ping-pong com o abismo - por José Thomaz Brum
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