Nota
do Autor
Ledor
Eis
o livro. Concebido, gerado e parido no CRUSP. A pesquisa foi feita
entre junho e dezembro, no vácuo da greve dos professores
de 93. De janeiro a março de 94, em pleno verão,
escrevi o libelo. Êxtase. Foram os dias mais exuberantes
de minha vida: lia, ria, escrevia e chorava. Eu vi Deus. Parto
difícil, a fórceps, de noite, chovendo, sozinho,
e no escuro. Nasce o rebento. No mesmo ano inscrevo-o num concurso.
Nada! Em 95, mesmo concurso, o libreto recebeu em seu primeiro
ano de vida a sua primeira premiação. Frufrus, salamaleques,
edição que é bom...? Nada!
Foi
fundada a Associação dos Ilustríssimos Escritores
Desconhecidos, ou O Grupo dos Sujos. Batendo portadas; inteirei,
emprestei, assinei, disse e prometi. Dei calote, dei cano e não
paguei a seu ninguém. Cinco edições correram
de mãoem-mão em escolas públicas, associações
de moradores, clubes, sindicatos, escolas de samba, bares, feiras,
congressos, encontros, colóquios, ruas, praças,
avenidas etc. etc. etc.
Só
agora uma edição profissional! É assim mesmo,
dizem. Vem acompanhada de pranchas feitas pelos viajantes do século
XIX, ilustrando várias histórias havidas e acontecidas
pelo Brasil. Reinterpretadas, a partir delas criaram-se cenas.
Daí a inserção.
Ao final do volume, segue, aos interessados, brevíssima
sugestão de leitura.
É isto.
Axé
Shalom
Salamalaikum
O autor
Resumo
da Obra
A
noite dos cristais, de Luís Fulano de Tal (Luís
Carlos de Santana), conta a história do negro Gonçalo,
um brasileiro que nasceu na primeira metade do século XIX.
Esta novela é o resultado da transcrição
de suas memórias, a partir do manuscrito encontrado em
Caiena, na Guiana Francesa, por um estudante também negro,
brasileiro.
Amaro,
o pai de Gonçalo, era um ex-escravo haussá, que
renegara sua fé muçulmana, pois se considerava traído
por membros de seu povo que se aliaram aos portugueses na África.
Já sua mãe, Flora Maria, apesar do nome cristão,
era de origem nagô, como Ombutchê, a avó materna
de Gonçalo.
Este,
o nosso primeiro grande cenário: a escravidão -
e seus valores recalcados - aos olhos de um menino livre em Salvador.
Gonçalo
convivia com Diogo, o galego, filho do dono da casa, contando
os navios negreiros que chegavam e partiam da Baía de Todos
os Santos... Alfabetizado, lia nos jornais descrições
de escravos fugitivos, procurados, e encontra seus heróis
entre os ousados sacerdotes muçulmanos, que se recusavam
à submissão e propunham revolta.
Então,
em janeiro de 1835, estoura uma rebelião de escravos: a
chamada Revolta dos Malês. Dois mil negros encontram seu
destino sob a repressão portuguesa: mortos ou enviados
às galés. Para pagar as perdas do Império,
Gonçalo é vendido como escravo para um engenho em
Pernambuco.
A
vida na senzala é o outro grande painel do livro: Antonina,
rezadeira e parteira, tio Rufino e o Buzuntão, a violência
sexual, as festas de São João, Natal, Reisado...
Escravo
por dez anos, Gonçalo foge para a Guiana, onde inicia o
manuscrito de que nos conta o estudante brasileiro: revivendo
as (des)venturas da formação de nosso povo, descobrindo
identidades de que sequer suspeitava, na figura desse antepassado...
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