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L&PM editores publicou o livro "Erections, Ejaculations,
Exihibitions and General Tales of Ordinary Madness",
em dois volumes, sob o título geral de Ereções, Ejaculações
e Exibicionismos (1984). O Vol.1 leva o título do filme
que o italiano Marco Ferreri realizou baseado no texto de Bukowski:
A Crônica do Amor Louco, cuja linha mestra é exatamente o
primeiro conto do livro, A mais Linda Mulher da Cidade.
O Vol.2 chama-se Fabulário Geral do Delírio Cotidiano.
O conto abaixo é do Vol.1.
Martin
Blanchard casou duas vezes, divorciou, e se amigou de montão.
Agora já estava com quarenta e cinco anos, morava sozinho
no quarto andar de um prédio de apartamentos e acabava
de perder o vigésimo sétimo emprego de tanto faltar
ao serviço, por puro desinteresse.
Vivia às custas da previdência social. Tinha manias
modestas - gostava de se embriagar ao máximo, sozinho,
de dormir até tarde e ficar lá no seu apartamento,
sozinho. Outra coisa curiosa a respeito de Martin Blanchard é
que nunca se sentia só. Quanto mais pudesse manter-se longe
do convívio humano, melhor pra ele. Os casamentos, as amigaçães,
as trepadas passageiras, deixaram-Ihe a sensação
de que o ato sexual não compensava o que a mulher exigia
em troca. Agora, desistindo de uma companheira fixa, se masturbava
com frequência. Deu por encertada a sua educação
no primeiro ano do segundo grau e, no entanto, quando escutava
rádio - seu contato mais íntimo com o mundo - só
queria ouvir sinfonias, e de Mahler, se possível.
Certa manhã acordou bem cedo, pra ele - lá pelas
10 e meia - depois de uma noite de muito porre. Tinha dormido
de camiseta, cueca e meia; se levantou da cama encardida, foi
até à cozinha e espiou na geladeira. Estava com
sorte. Havia ali duas gartafas de vinho do Porto, que não
custa nada barato. Martin foi pro banheiro, cagou, mijou, depois
voltou à cozinha e abriu a primeira gartafa de vinho do
Porto, enchendo o copo até em cima. Aí então
sentou-se à mesa, que lhe dava uma vista completa da rua,
do lado norte da cidade. Era verão e o calor convidava
à preguiça. Lá embaixo, se via uma casinha
onde morava um casal de velhos. Estavam viajando, em férias.
Embora pequena, a casa tinha na frente um gramado extenso e largo,
bem cuidado, todo verde. Transmitia a Martin Blanchard uma estranha
sensação de paz.
Sendo verão, as crianças não iarn ao colégio,
e quando Martin contemplou o grande gramado verde, bebendo aquele
saboroso vinho do Porto gelado, notou a garotinha e os dois meninos
brincando lá embaixo. Pareciarn dar tiros um no outro.
Pum! Pum!
Martin reconheceu a menina. Morava no pátio, do outro lado
da rua, com a mãe e o irmão mais velho. O chefe
da família tinha ido embora ou morrido. A garotinha, reparou,
era muito moleque sempre pondo a língua pros outros e dizendo
desaforos. Não fazia idéia da idade que poderia
ter. Qualquer coisa entre seis e nove anos. Distraidamente , vinha
observando o seu jeito durante todo o verão. Volta e meia,
quando Martin passava pela calçada, parecia sentir medo
dele. Nunca conseguiu entender o motivo.
Enquanto olhava, percebeu que estava vestida com uma espécie
de blusa de marinheiro, branca, e, presa por alças que
encobriarn parte da blusa, uma saia vermelha bem curta. Enquanto
se arrastava pela grama, a saia subia, revelando a calcinha mais
interessante que se possa imaginar - também vermelha, mas
de tonalidade pouco mais clara que a saia. E com uma porção
de babadinhos na barra.
Martin se levantou, bebeu um gole, sem despregar os olhos da calcinha,
enquanto a menina se arrastava pelo chão. De uma hora pra
outra, ficou de pau duro. Não sabia o que fazer. Deu uma
volta para sair da cozinha, voltou para o quarto da frente, de
repente, quando viu, estava de novo diante da janela da cozinha,
olhando, lá fora. Aquela calcinha. Aqueles babadinhos.
Puta merda, haja cacete, não dava para aguentar!
Martin encheu outro copo de vinho, virou tudo de um gole, depois
olhou mais uma vez. A calcinha não deixava nada para a
imaginação! Nada! Puta merda!
Tirou o pau pra fora da cueca, cuspiu na palma da mão e
começou a se masturbar. Meu Deus, que beleza! Nenhuma mulher
adulta jamais tinha excitado Martin desse jeito! O pau estava
mais duro do que nunca, roxo, assustador. Se sentiu como se tivesse
descoberto o próprio segredo da vida. Encostou-se na tela,
batendo punheta e gemendo, vendo aquele rabinho cheio de babados
lá embaixo.
De repente gozou.
Por tudo quanto foi lado do chão da cozinha.
Foi ao banheiro, pegou um pouco de papel higiênico, limpou
os ladriIhos, fez um chumaço daquela gosma pegajosa e esfregou
os últimos vestígios de porra. Depois sentou. Encheu
outro copo de vinho.
Graças a Deus, pensou, acabou. Tirei da cabeça.
Estou livre de novo.
Sempre olhando para a zona norte, dava para enxergar o observatório
do Griffith Park lá em cima, nas colinas roxo-azuladas
de Hollywood. Maravilha. Morava num lugar ótimo. Ninguém
se lembrava de aparecer por ali. A primeira mulher dizia que era
apenas neurótico, mas não louco. Ora, que fosse
à merda como todas, aliás. Agora pagava aluguel
e o pessoal não vinha encher o saco. Tomou o vinho, devagar,
saboreando bem o gosto.
Ficou olhando. A garotinha e os dois meninos continuavam brincando.
Fez um cigarro. Depois pensou, bom, pelo menos eu devia comer
uns ovos cozidos. Mas não estava interessado em comida.
Como quase sempre, aliás. Martin Blanchard observou da
janela. Continuavam com aquilo. A garotinha se arrastava pela
grama. Pum! Pum!
Que jogo mais bobo.
De repente o pau começou a ficar duro de novo.
Martin notou que já tinha tomado uma garrafa inteira de
vinho e começado outra. O pau se curvava pra cima como
se fosse uma coisa simplesmente incontrolável.
Molequinha. De língua de fora. Molequinha, se arrastando
na grama. Martin sempre ficava inquieto quando se via reduzido
a uma única garrafa de vinho. E estava precisando também
de charutos. Gostava de fazer seus cigarros. Mas não havia
nada comparável a um bom charuto. Daqueles de dois-por-27-cents.
Começou a se vestir. Olhou o rosto no espelho - barba de4
dias. Não tinha importância. A única ocasião
em que se barbeava era pra ir buscar o cheque da previdência
Social. De modo que pôs umas roupas sujas, abriu a porta
e desceu pelo elevador. Depois que chegou na calçada, começou
a andar em direção à loja de bebidas. A todas
essas, reparou que as crianças estavam com as portas da
garagem abertas e, lá dentro, ela e os dois meninos continuavam:
Pum!Pum!
Quando Martin viu, já tinha subido a rampa que ia dar na
garagem. Os três estavam lá dentro. Entrou e fechou
as portas.
Uma escuridão absoluta. E ele ali dentro com os três.
A garotinha deu um berro.
- Agora bico calado - disse Martin, - pra ninguém se machucar!
Se fizerem qualquer barulho, podem ter certeza que alguém
vai se machucar!
- O que que o senhor vai fazer, moço? - Martin ouviu uma
voz de menino.
- Cala essa boca! Puta que pariu, eu já disse que era pra
calar o bico!
Riscou um fósforo. Lá estava - uma simples lâmpada
elétrica no teto, com uma cordinha comprida pendente do
lado. Martin puxou a cordinha. A luz era suficiente. E, como num
sonho, havia um pequeno ferrolho pra trancar a garagem por dentro.
Martin trancou a porta.
Olhou em torno.
- Muito bem! Vocês dois fiquem parados ali naquele canto
pra ninguém se machucar! Vamos, meninos, já! Depressa!
Martin Blanchard apontou para o canto.
Os meninos obedeceram.
- Moço, o que que o senhor vai fazer?
- Eu disse que era pra calar o bico!
A molequinha de blusa de marinheiro, saia curta vermelha e calcinha
de babados, estava no outro canto.
- Não me toca! Me deixa em paz! Seu velho cara de peido,
sai de perto de mim!
- Cala essa boca! Se gritar, eu te mato!
- Sai daqui! Me deixa em paz! Sai!
Martin finalmente pegou a garota. Estava toda escabelada, um cabelo
liso, feio, com cara quase depravada para uma menina de sua idade.
Sujeitou-lhe as pernas entre os joelhos, feito torniquete, depois
se abaixou e encostou a cara enorme no rostinho dela, beijando
e chupando-Ihe os lábios, sem parar, enquanto ela se debatia,
golpeando com os punhos a cara dele. O pau parecia que tinha ficado
do tamanho do próprio corpo. Continuou sempre beijando,
beijando, vendo a saia caindo, mostrando aquela calcinha de babados.
- Tá beijando ela! Olha Só, ele tá beijando
ela! - Martin ouviu um garoto dizer lá no canto.
- É - disse o outro.
O olhar de Martin penetrava os olhos dela. Uma comunicação
entre dois infernos - o dela e o dele. Beijava, completamente
desvairado, mais voraz que o mar, a aranha sugando a mosca. Começou
a apalpar com as mãos a calcinha de babados.
Ah meu Deus, valei-me!, pensou, não há nada mais
lindo que esse vermelho rosado, e mais do que isso - a hediondez
- um botão de rosa que se recusava a desabrochar ante a
sua total podridão. Não podia mais parar.
Tirou-Ihe a calcinha, mas ao mesmo tempo parecia incapaz de interromper
os beijos que dava naquela boquinha, e ela estava quase desmaiada,
não lhe golpeava mais a cara, mas a estatura desproporcional
dos corpos dificultava tudo, atrapalhava, e no meio de tanta paixão,
impedia qualquer raciocínio. Mas o pau dele estava de fora
- grande, roxo, mal-encarado, uma loucura fedorenta que queria
sair correndo e não tinha onde se meter.
Enquanto esse tempo todo - à luz da lâmpada - Martin
ouvia vozes infantis dizendo:
- Olha! Olha! Ele tá com aquela baita coisa e tá
querendo meter aqui na rachinha dela!
- Me contaram que é assim que as pessoas têm nenê
.
- Será que vão ter nenê aqui mesmo?
- Acho que sim.
Os meninos se aproximaram, de olho arregalado. Martin continuava
beijando o rostinho enquanto tentava meter a ponta do pau. Simplesmente
não dava. Não conseguia pensar. Sentia só
tesão, tesão, tesão. De repente enxergou
uma cadeira velha, sem uma travessa na parte de trás. Levou
a garota até lá, sem parar de beijar, o tempo todo
pensando naquele cabelo liso, despenteado e feio, naquela boca
que espremia com os lábios.
Tinha que ser agora.
Martin chegou na cadeira, sentou, sempre beijando aquela boquinha
e a pequena cabeça, cada vez mais, e depois abriu-lhe as
pernas. Que idade teria? Será que ia dar certo?
Os meninos agora estavam bem perto, espantados.
- Ele já enfiou a cabeça.
- É. Olha. Eles vão ter nenê?
- Sei lá.
- Olha só! Já meteu quase a metade!
- Parece uma cobra!
- É! Uma cobra!
- Olha! Olha! Tá mexendo pra trás e pra frente .
- É. Tá cada vez mais fundo!
- Enterrou tudo!
Agora está lá dentro do corpo dela, pensou Martin.
Minha nossa, o meu pau deve ter a metade do tamanho do corpo dela!
Debruçado sobre a menina na cadeira, beijando e ao mesmo
tempo rasgando tudo lá embaixo, estava pouco ligando; seria
capaz até de rachar-lhe também o crânio.
De repente gozou .
Ficaram ali, colados naquela cadeira sob a luz da lâmpada.
Imóveis. Aí Martin largou devagar o corpo no chão
da garagem. Destrancou as portas. Saiu. Voltou pra casa. Apertou
o botão do elevador. Parou no andar em que morava, foi
até a geladeira, pegou uma garrafa, encheu um copo de vinho
do Porto, sentou e ficou esperando.
Não demorou muito, surgiu gente de tudo quanto era parte.
Vinte, vinte e cinco, trinta pessoas. Do lado de fora da garagem.
Lá dentro.
Depois uma ambulância subiu a rampa na disparada.
Martin viu quando retiraram a garotinha na padiola. Aí
a ambulância se foi. E cada vez aparecia mais gente. E mais.
Bebeu
o vinho, encheu o copo de novo. Talvez não saibam quem
sou, pensou. Quase nunca saio de casa. Mas, seja lá como
for, não foi assim que aconteceu. Não tinha trancado
a porta. Dois guardas entraram. Rapagões, até bonitos.
Já estava começando a gostar deles.
- OK, seu merda!
O primeiro desfechou-lhe um soco certeiro na cara. Enquanto Martin
se levantava de mãos estendidas para ser algemado, o segundo
pegou o cassetete e acertou-lhe em cheio na barriga. Martin caiu
no chão. Não dava para respirar nem se mexer. Levantaram
de novo. O segundo deu-lhe outro murro na
cara. Havia gente por todos os lados. Resolveram desistir do elevador
, e foram andando, empurrando-o pela escada abaixo.
Caras, caras e mais caras, nas portas, lá fora na rua.
No carro-patrulha foi estranhíssimo - tinha dois polícias
no banco da frente e dois, com ele, no banco de trás. Martin
estava recebendo atenções especiais.
- Era capaz de matar um filho da puta como você -disse-lhe
um dos guardas no banco de trás. - Sem fazer força
nenhuma. ..
Martin começou a chorar em silêncio. As lágrimas
escorriam pelo rosto.
- Tenho uma filha de cinco anos - disse um dos policiais do lado
dele. -Te matava sem nem hesitar!
- Não pude evitar -disse Martin, - estou dizendo a vocês,
juro por Deus, não deu pra evitar.
O guarda começou a bater com o porrete na cabeça
dele. Ninguém tentou impedir. Martin caiu pra frente, botando
vinho e sangue pela boca. O guarda endireitou-lhe o corpo, tacou-lhe
porrete no rosto e na boca, quebrando a maior parte dos dentes
da frente.
Depois, a caminho da delegacia, deixaram-no em paz algum tempo.

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