Extraído
de Mulheres
Editora Brasiliense, 1984
A
porta abriu e lá estava Iris. Tirei a folha da maquina e deixei
ela de lado, com o texto pra baixo.
- Olha, Hank! Comprei o sapato de biscatão!
- Maravilha! Maravilha!
- Vou botar pra você ver! Tenho certeza que cê vai adorar!
- Vá nessa, baby!
Íris foi pro quarto. Escondi a carta pra Tanya sob uma pilha de
papeis.
Iris
saiu do quarto. Os sapatos eram de um vermelho-briIhante, com
saltos escandalosamente altos. Parecia uma das maiores putas de
todos os tempos. Os sapatos, abertos atrás, eram de material transparente,
deixando os pés à mostra. Iris andava de lá pra cá. Ela tinha
um corpo ultraprovocativo, com toda aquela bunda; os saltos faziam
tudo aquilo subir aos céus. Era de enlouquecer. Iris parou e me
olhou por cima do ombro, sorrindo. Que putinha maravilhosa! Ela
tinha mais quadris, mais bunda, mais barriga-da-perna que qualquer
outra mulher. Fui correndo preparar dois drinques. Iris sentou
e cruzou bem alto as pernas. Sentou numa cadeira, em diagonal
comigo. Os milagres continuavam acontecendo na minha vida. Não
conseguia entender.
Meu pau estava duro, latejante, pressionando minha calça.
- Você sabe o que os homens gostam - disse a ela.
Acabamos
de beber. Levei-a pro quarto pela mão. Suspendi seu vestido e
puxei sua calcinha. Trabalho complicado. A calcinha enganchou
no salto do sapato; acabei conseguindo desembaraça-la. Os quadris
de Iris ainda estavam encobertos pelo vestido. Levantei-a pela
bunda e puxei o vestido pra cima. Já estava molhada. Senti com
os dedos. Iris estava quase sempre molhada, quase sempre a fim.
Ela era um barato total. Estava de meias de nylon longas com ligas
enfeitadas de rosas vermelhas. Enfiei o troço no molhadinho. Suas
pernas estavam suspensas no ar; eu acariciava ela e via aqueles
sapatos de biscatão nos pés dela, os saltos vermelhos espetados
como punhais. Iris ia ser agraciada com outro papai & mamãe a
antiga. Amor é pros guitarristas, católicos e fanáticos por xadrez.
Aquela vaca, com aqueles sapatos vermelhos e meios longas - ela
merecia o que ia receber de mim. Tentei rasga-la ao meio, racha-la
em duas metades. Olhei aquela cara meio índia, estranha, na branda
luz solar que se filtrava timidamente pela persiana. Era um assassinato.
Eu a possuía. Não tinha como escapar. Eu carcava e urrava, dava-Ihe
tapas na cara e quase arrebentei ela pra valer.
Me
surpreendeu que levantasse sorrindo pra ir ao banheiro. Parecia
quase feliz. Os sapatos tinham caído ao lado da cama. Meu pau
ainda estava duro. Peguei um sapato dela e esfreguei no meu pau.
Era ótimo. Dai, botei o sapato de novo no chão. Quando Íris saiu
do banheiro, ainda sorrindo, meu pau amoleceu.

Nada
de mais aconteceu ate sua partida. Bebemos, comemos, trepamos.
Não teve brigas. Demos longos passeios de carro pela costa, comemos
em restaurantes de pratos do mar. Nem me preocupei em escrever.
Tinha épocas em que o melhor era ficar longe da maquina. Um bom
escritor sabe quando deve parar de escrever. Qualquer um e capaz
de datilografar. E eu nem era um bom datilógrafo; era mau também
em ortografia e gramática. Mas sabia quando deixar de escrever.Era
que nem trepar. Você tinha de dar um tempo pra divindade, de vez
em quando. Eu tinha um velho amigo que de vez em quando me escrevia,
o Jimmy Shannon. Ele produzia seis romances por ano, todos sobre
incesto. Não admirava que estivesse passando fome. Meu problema
e que eu não conseguia sossegar a minha divindade caralhal, do
jeito que eu fazia com a minha divindade datilografal. Isto porque
a oferta de mulheres era sazonal, e você tinha de aproveitar e
transar o maior número possível, antes que a divindade de algum
aventureiro entrasse no meio. Acho que o fato de eu ter abandonado
a escrita por dez anos foi a melhor coisa que poderia ter-me acontecido.
Alguns críticos, imagino, diriam que foi a melhor coisa que poderia
ter acontecido aos leitores também.) Dez anos de descanso pros
dois lados. O que aconteceria se eu parasse de beber por dez anos?
Acertou
em cheio!
|
 |
Buk
e Tina Darby, anos 70.
|
Então, chegou a hora de embarcar Iris no avião. Era um vôo matinal,
o que complicava um pouco as coisas. Eu estava acostumado a acordar
ao meio-dia; era uma excelente cura pra ressaca e me acrescentaria
cinco anos de vida. Eu não estava triste ao leva-la pro aeroporto
internacional de L.A. O sexo tinha sido legal, divertido. Não
conseguia me lembrar de outra historia tão civilizada. Nenhum
de nós ficou fazendo exigências; mesmo assim, não faltou carinho
nem sentimento. Não foi na base da carne morta se acoplando a
carne morta. Eu detestava esse tipo de swing sexual característico
de Los Angeles, Hollywood, Bel Air, Malibu, Laguna Beach. Estranhos
no primeiro encontro, estranhos na despedida - um verdadeiro ginásio
olímpico de corpos anônimos masturbando-se mutuamente. Gente sem
moral normalmente se considera mais livre, mas a maioria carece
de capacidade de sentir, de amar. Então, viram swingers, num troca-troca
incessante de parceiro. Morto fundindo morto. Nenhum senso de
humor, nada de brincadeira no jogo deles - cadáver fodendo cadáver.
As morais são restritivas, mas são fundadas na experiência humana
através dos séculos. Certas morais servem pra encarcerar as pessoas
nas fabricas, igrejas e submete-las ao Estado. Outras fazem sentido.
E como um pomar repleto de frutos envenenados e bons frutos. O
negocio é saber qual apanhar pra comer, qual evitar.
Minha
experiência com Iris tinha sido deliciosa e plena, embora nenhum
estivesse apaixonado pelo outro. Era fácil de deixar-se envolver
e difícil de evitar isso. Eu me deixava envolver.

|